Desconforto e ansiedade em período de pandemia

Autor: Alexandra Simão    Data: 9-04-2020
Publicado na categoria: Opinião
Vivemos uma situação excepcional e isso é percebido por todos. Por vezes ainda acordamos e duvidamos se tudo isto não será apenas um pesadelo que demora a passar. Vivemos uma situação real, de facto. E por ser real mas desconhecido exige de nós capacidades excepcionais porque também este tempo assim o é. 

Estamos mesmo em perigo? Quando é que tudo isto vai passar? Quando é que podemos voltar à nossa rotina? Estamos mesmo a atravessar um período que a própria história não conhece? A dúvida causa-nos desconforto e ansiedade. É normal que a sintamos desta forma. Por não sabermos. Por não conseguirmos controlar mas, sobretudo, por não sabermos o dia de amanhã.

E nós, seres humanos, vivemos constantemente a necessitar de controlo.O vírus trouxe-nos uma oportunidade que, arrisco dizer, não teríamos numa outra fase da nossa vida: tempo. Tempo para reflectir sobre se, de facto, não estaríamos a viver depressa demais, a trabalhar depressa demais, a correr depressa demais, a pensar depressa demais, a tomar decisões depressa demais, a viver depressa demais.

O vírus obrigou-nos a parar. E parece que a vida nos ia dando sinais, ao longo do tempo, de que era preciso parar. E nós não nos soubemos escutar. Porque escutar é diferente de ouvir.O vírus está a exigir muito de nós. Da nossa capacidade de resiliência, da nossa capacidade de esperar, da nossa capacidade de dar valor àquilo que realmente importa. O vírus está a exigir de nós diversas adaptações ao nosso dia-a-dia como uma simples ida ao supermercado ou à farmácia. Situações tão banais essas mas que agora exigem de nós mais do que habitual.

É importante sim que saibamos que fases/etapas excepcionais requerem de nós capacidades excepcionais, como referi anteriormente. É importante não descurarmos os sinais. É importante que saibamos que é expectável sentirmos ansiedade, medo, preocupação ou até zanga e frustração.

É importante que nos mantenhamos informados e actualizados, utilizando apenas fontes oficiais que nos garantam que a informação é verdadeira e fiável.

Partilhe o que sente com os seus amigos, familiares ou colegas de trabalho. Diga-lhes o que sente, quais os seus receios, que estratégias está a utilizar. Partilhe com eles a sua visão do futuro e escute-os.

É importante que não nos esqueçamos de um aspecto fundamental: esta situação, apesar de duração incerta, é temporária. Nada nos diz que ficaremos para sempre em isolamento e que a nossa vida não retomará a normalidade. É uma situação temporária e sendo temporária, tal como o nome indica, está confinada a um período de tempo.

Recuperaremos tudo aquilo que sentimos que estamos a perder durante este tempo. E lembre-se: talvez não seja uma perda de tempo. Repare na quantidade de actividades que fez estas semanas que, muito provavelmente, não faria num outro qualquer momento da sua vida. O tempo que está a dedicar aos seus filhos, a actividades prazerosas.

Talvez este tempo nos traga mais oportunidades do que aquelas que alguma vez julgámos. É tempo de aproveitarmos o tempo. De reconstruir sonhos e de voltar a semear sorrisos perdidos no tempo. Este tempo leva-nos a reinventar novas formas de amar. De gostar. De sentir. Que todo este tempo sirva para dele retirarmos aprendizagens que, no futuro, nos serão precisas e necessárias.

Talvez a mensagem de tudo isto seja esta mesmo: parar para depois recomeçar.

Foto: @maytherunbewithus

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