O que acontece quando a paixão pelo desporto se cruza com a vontade de fazer diferente? Nasce um projeto como a Tributus, onde cada prémio conta uma história — não apenas de superação, mas também de sustentabilidade e propósito.
Nesta entrevista conduzida por Rita Vicente, o fundador e CEO da Tributus, Paulo Ferreira, revela como a corrida o inspirou a repensar a forma como celebramos conquistas e porque acredita que é possível unir o design, o ambiente e a emoção num único objeto. Um testemunho autêntico sobre empreendedorismo, visão e impacto no mundo dos eventos desportivos.
Como surgiu a ideia de criar a Tributus e de que forma o trail running teve influência nesse processo?
A ideia surgiu da vivência direta no mundo do trail running. Como atleta, conhecia de perto a realidade dos eventos desportivos — os desafios logísticos, as necessidades dos organizadores e o valor simbólico das medalhas e troféus. Essa experiência permitiu-me identificar uma lacuna no setor: a ausência de fornecedores focados em prémios personalizados, sustentáveis e com um verdadeiro impacto visual e emocional.
Qual foi o momento-chave em que sentiu que poderia transformar a sua paixão por desporto num projeto empresarial com impacto?
Foi quando me apercebi de que muitos organizadores procuravam algo diferente para os seus eventos e que estivesse alinhado com os valores dos eventos, dos atletas e dos clubes, associações, entidades. Percebi que podia oferecer mais do que um produto: podia oferecer uma solução que se traduzisse tanto numa experiência como numa extensão do evento que os participantes levam consigo.
Depois, a reação dos primeiros clientes foi positiva e trouxe a confirmação de que havia espaço para inovar e criar impacto.
A Tributus distingue-se por criar prémios sustentáveis e personalizados. Qual é a importância desta abordagem, especialmente no contexto dos eventos desportivos?
A nossa abordagem permite-nos oferecer peças 100% alinhadas com um mercado que valoriza cada vez mais as práticas responsáveis – e isto estende-se aos organizadores dos eventos desportivos, aos atletas e ao público. Optando por materiais ecológicos, adotando processos eficientes e uma cadeia de abastecimento sustentável, conseguimos criar medalhas e troféus que representam os valores de um evento e o esforço dos atletas.
Acredita que os prémios e medalhas também contam uma história? Como é que a Tributus procura dar significado a cada peça que produz?
Como atleta de alta competição que já fui, sei bem que cada medalha ou troféu que se recebe conta a história do nosso percurso e do que nos levou até àquele momento: os meses de treino intenso, a dedicação e os sacrifícios que se fazem, o investimento em equipamento, deslocações, tudo.
Na Tributus, quando criamos uma peça temos sempre isto em consideração e dedicamos especial atenção ao briefing do cliente para captar a essência do seu evento – faz parte do acompanhamento personalizado, reconhecido pelos clientes como uma das grandes mais-valias da marca.
Como atleta de ultra trail, o que aprendeu nas montanhas que aplica hoje na liderança da Tributus?
Resiliência, foco e humildade. Graças ao trail, aprendi a enfrentar com clareza os desafios da gestão de um negócio, a manter o ritmo nos momentos mais difíceis e a confiar na minha equipa para alcançarmos os objetivos.
Em apenas três anos, a Tributus tornou-se uma referência no setor de prémios desportivos. Que fatores estratégicos e valores da empresa considera decisivos para este crescimento acelerado?
Como valores destaco o compromisso com a qualidade, a relação com os clientes e o foco na sustentabilidade. Em relação aos fatores estratégicos, o nosso crescimento deve-se, sem dúvida, a uma equipa motivada e alinhada com os valores da marca, ao facto de nos posicionarmos como parceiros de negócios e não apenas como meros fornecedores, e à aposta nos mercados internacionais.
A sustentabilidade é um dos pilares da marca. Pode partilhar alguns exemplos práticos de como isso se reflete nos vossos produtos?
A sustentabilidade faz parte integrante do dia a dia da Tributus, e prova disso são as práticas adotadas em três áreas distintas da nossa atividade:
🔹 Cadeia de abastecimento Priorizamos fornecedores locais na aquisição de matérias-primas, contribuindo para o fortalecimento da economia regional e reduzindo significativamente o impacto ambiental associado ao transporte de materiais provenientes de zonas distantes.
🔹 Materiais e embalamento sustentáveis Aplicamos critérios ecológicos tanto no fabrico dos prémios como nas suas embalagens. Utilizamos cartão reciclado e papel colmeia para acondicionar as peças, enquanto os prémios são produzidos com madeira e cortiça resultantes dos desperdícios das indústrias madeireira e corticeira, bem como plásticos e acrílicos reciclados, alguns recolhidos diretamente dos oceanos.
🔹 Processos de produção responsáveis Adotámos métodos que visam a redução do consumo de recursos, nomeadamente energia, água e matérias-primas, ao mesmo tempo que diminuímos os desperdícios associados à produção.
Estas ações refletem o nosso compromisso com uma abordagem consciente e responsável, promovendo práticas que respeitam o ambiente sem comprometer a qualidade e a inovação.
Qual foi a decisão mais difícil que tomou desde que lançou a Tributus?
Na minha forma de ser e de estar (e isto é outro ensinamento que o trail me deu), não se trata de tomar decisões difíceis, mas sim de lidar e de gerir os desafios que cada dia nos traz. Numa empresa, todos os dias há situações novas, há imprevistos e cabe-nos a nós, gestores, ter humildade, resiliência e sabedoria para conduzir a equipa e a empresa de forma o mais segura possível.
A Tributus tem vindo a marcar presença em eventos de referência em Portugal e noutros países. Que projeto destaca como mais desafiante ou marcante até agora?
Diria que o ponto alto foi a participação na Maratona da Europa, um evento de projeção internacional que representou para nós um enorme desafio – e, ao mesmo tempo, uma experiência humana inesquecível.
Tudo aconteceu a grande velocidade: desde o primeiro contacto até à entrega dos prémios, a Tributus foi posta à prova em todas as dimensões. Tivemos de trabalhar em contrarrelógio para produzir e entregar, num prazo mínimo, a maior quantidade de medalhas alguma vez fabricadas por nós — cerca de 12 mil unidades — com uma equipa que, na altura, ainda era reduzida.
No fim, superámos o desafio com sucesso. Estivemos à altura e, este ano, tivemos a honra de ser novamente escolhidos pela organização. Um reconhecimento que nos enche de orgulho.
O que podemos esperar do futuro da Tributus? Há novidades a caminho?
Não querendo entrar em grandes revelações, posso adiantar que vamos continuar a apostar na internacionalização. E podem continuar a esperar da Tributus tudo aquilo a que já se habituaram e que é o nosso compromisso.
A Tributus representa uma nova forma de olhar para os prémios e para os eventos desportivos: mais consciente, mais sustentável e mais próxima das pessoas. Ao unir criatividade, propósito e responsabilidade, cria peças que vão além da celebração de resultados, contam histórias, deixam impacto e permanecem na memória de quem as recebe.
Mais do que distinguir desempenhos, a Tributus inspira um movimento. Um movimento feito de escolhas com sentido, de marcas com valores e de eventos que querem deixar uma pegada positiva. E é com esta visão que continua a crescer, lado a lado com quem acredita que o desporto pode ser um veículo para algo maior.
Fotos: DR; Susana Luzir (2)