Balanço dos Campeonatos do Mundo de Skyrunning – Absolutos e da Juventude

Autor: João Paulo Queirós (FCMP)    Data: 12-08-2021
Publicado na categoria: Eventos

No passado mês de julho, entre os dias 9 e 11, tiveram lugar os Campeonatos do Mundo de Skyrunning 2020, na localidade espanhola de Barruera, em pleno Vall de Boí, nos Pirenéus Catalães. Aproveitando o evento Buff Epic Trail, que reúne competições de corrida na montanha, mas também de BTT e outras atividades de lazer, as condições pandémicas e de vacinação permitiram realizar o evento que tinha sido adiado do ano passado.

Já em 2016, os Campeonatos do Mundo tiveram por base este evento, que apresentou o mesmo Km Vertical (abreviadamente designado por VK), de 3,3 Km para +1000 m de desnível positivo, mas as disciplinas de SkyMarathon (ou Sky) e Ultra SkyMarathon (ou SkyUltra) já apresentaram alterações, apresentando percursos circulares de 42 Km/+2900 m e 68 Km/+5000 m, respetivamente.

Este ano, a FCMP levou 16 atletas a estes campeonatos, tendo participado cinco no VK e seis na disciplina de Sky, como na de SkyUltra. Os resultados dos atletas portugueses estão dentro do que é normal atingirem neste tipo de eventos, onde encontram uma forte concorrência, com muitos atletas profissionais ou semiprofissionais, enquanto os nacionais são apenas amadores que têm de conjugar a sua atividade profissional com a preparação física.

De referir que, pela 1ª vez em provas do escalão absoluto da ISF, os atletas das Seleções partiam separados dos restantes inscritos na prova aberta. Assim, a participação dos atletas selecionados pelas suas federações até pareceu ser muito pequena, dado que, por causa da Covid-19 ou das várias restrições ainda presentes nas viagens, faltaram algumas seleções e muitos atletas, para além de haver separação entre masculinos e femininos. Ainda assim, após a realização das três disciplinas, classificaram-se um total de 162 atletas em representação de 20 países.

No Km Vertical, venceu o conhecido Skyrunner japonês Ruy Ueda, que percorreu o percurso de 3,3 Km, em 35m06s. A seis minutos ficou o melhor representante português, Ricardo Gouveia. No setor feminino, a melhor foi a checa Marcela Vasinova, com 41m00s, tendo Beatriz Alves sido a melhor portuguesa.

Seguiu-se a prova de SkyUltra, competição com 68 Km e 5 mil metros de desnível positivo. Levou-a de vencida o andorrano Marc Casal Mir, em 8h10m, em masculinos, e nos femininos, a espanhola Maite Maiora, com 9h26m56s, que já em 2016 tinha sido campeã do mundo, mas de SKy. Os melhores representantes nacionais, no seu setor, foram os madeirenses Luís Fernandes e Lúcia Franco.

Na prova de Sky, Manuel Merillas levou de vencida a competição, que apresentava cerca de 42 Km e 3 mil metros positivos, em apenas 4 horas e 13 segundos. Nos femininos, Marcela Vasinova, venceu de novo, com 4h50m24s, e, consequentemente, ganhou também o Combinado, que reúne os tempos de quem finaliza o Km Vertical e a SkyRace. No setor masculino, foi Ruy Ueda quem levou a melhor no Combinado, mercê do seu primeiro lugar e terceiro na competição de Sky.

Na classificação por equipas, a Seleção Nacional levou Portugal à sétima posição final, entre 20 seleções classificadas, com 530 pontos.


Destaca-se também a presença do árbitro português, Paulo Pires, nomeado pela International Skyrunning Federation, para a equipa de arbitragem presente nestes Campeonatos do Mundo.
Os Apeninos receberam os Campeonatos do Mundo de Skyrunning Jovem

Decorreram, de 30 de julho a 1 de agosto, em Itália, os Campeonatos do Mundo de Skyrunning dedicado aos escalões jovens, no mesmo local previsto para o ano passado e que foi cancelado por causa da conhecida pandemia da Covid-19.

Neste evento, localizado em Fonte Cerreto (L’Aquila) e próximo da mais alta montanha dos Apeninos (o Gran Sasso, 2912 m), podem participar jovens dos seguintes escalões: Youth A (15 a 17 anos), Youth B (18 a 20 anos) e Under 23 (21 a 23 anos), que em português designam-se como juvenis, juniores e sub-23.

Portugal marcou presença na 5ª edição do evento da International Skyrunning Federation (ISF), com uma seleção constituída por 17 jovens, 9 rapazes e 8 raparigas, ainda não tendo falhado nenhum mundial de Skyrunning dedicado à juventude. A seleção destes jovens foi feita tendo em conta a sua posição na tabela classificativa da Taça de Portugal da Juventude até ao início de julho.

A chegada a solo italiano deu-se no dia 29 de julho, onde encontraram no aeroporto de Roma, 35 graus de temperatura. Bom para ambientar ao calor que grassa atualmente pelo sul da Europa e que tem provocado imensos fogos. Ainda deu para visualizar alguns em Itália, o que não deixa saudades nenhumas aos portugueses que anualmente também sofrem do mesmo flagelo.

Da parte da tarde, já em Fonte Cerreto, procedeu-se à confirmação dos dados e documentos necessários para a participação no evento, isto é, testes Covid negativos, exames médicos e termos de responsabilidade entregues.
O dia 30 foi iniciado com reunião técnica entre a organização e os vários responsáveis das Seleções Nacionais presentes. Entretanto, os atletas tiveram um breve contacto com o local e a sua altitude, subindo de teleférico até à Chegada do Km Vertical, aos 2136 m de Campo Imperatore, mil metros acima de Fonte Cerreto.

A primeira competição teve início, precisamente às 15h30 da tórrida tarde de Verão com que os Apeninos brindaram todos os participantes. Os jovens portugueses, e não só, sofreram com o calor dos 3,8 Km de distância do Km Vertical. Porém houve alguns em que a ansiedade, por estarem a participar pela primeira vez num verdadeiro Km Vertical de uma prova internacional, lhes provocou mais cansaço psicológico que dores musculares. Mas todos cumpriram a sua missão estoicamente. Os melhores tempos foram alcançados pelo espanhol Daniel Osanz (Under 23), com 36m36s, e pela norueguesa Ida Waldal (Youth A!), com 47m07s, respetivamente entre os masculinos e femininos.

O dia 31, sábado, foi de calma aparente. Enquanto alguns passearam pelas redondezas e foram reconhecer parte do percurso da SkyRace, outros aproveitaram para descansar, mas todos assistiram à cerimónia inaugural dos Campeonatos e à entrega das medalhas do Km Vertical aos três melhores classificados de cada escalão. De seguida, quase toda a comitiva portuguesa efetuou os necessários testes Covid para poder regressar de Itália.

Percurso da SkyRace alterado pelos fortes ventos em altitude

No Domingo, pouco antes da partida, foi anunciada a alteração do percurso da SkyRace, por questões de segurança, devido aos fortes ventos sentidos em altitude (com rajadas de até 150 Km/h). Assim, o percurso previsto para os Juniores e Sub-23 (21 Km e +2200 m) passou a ser o mesmo dos Juvenis, evitando-se, assim, as zonas mais técnicas e de maior altitude, e não percorrendo uma crista da montanha, baixando a cota para um caminho menos exposto às rajadas. O percurso, passou a ter, para todos os escalões, cerca de 17 Km e aproximadamente 1500 m de desnível positivo acumulado. Os resultados dos atletas portugueses foram um pouco melhores nesta 2ª prova.

A vitória no setor masculino coube ao norueguês Kasper Fosser (Under 23), em 1h37m12s, à frente de Daniel Osanz. Entre as senhoras, venceu a checa Barbora Macurova (Under 23), seguida da jovem vencedora do Km Vertical.
No que concerne ao Combinado (classificação que junta os tempos dos atletas em relação ao tempo do 1º classificado do seu escalão), os atletas da Seleção Nacional melhoraram um pouco ou mantiveram as suas posições nas classificações já obtidas em cada escalão.

Destacam-se, a nível individual, os quintos lugares de Victoria Bento (Youth A) e os sétimos de Bruna Ferreira (Youth A) e Beatriz Alves (Under 23), bem como, no setor masculino, as prestações de Jorge Filipe (Under 23) no Km Vertical (10º) e de Diogo Gomes (Youth B) na SkyRace (13º).

Os melhores resultados à geral contribuíram também para a classificação por equipas, tendo os nossos atletas levado Portugal à 8ª posição final, entre as 18 nações participantes. Esta classificação só foi alcançada porque a FCMP tenta ocupar toda a quota disponibilizada a cada país. Apresentando um número alto de atletas, mais têm oportunidade de evoluir e ganhar experiência nos contactos internacionais.


Conclusões

Regista-se o bom ambiente que reinou entre todos os participantes, atletas e técnicos que acompanharam as duas seleções. Nem a grave avaria de uma carrinha em Espanha, provocou grandes soluços na seleção, em que uma parte da equipa regressou a Portugal num veículo de aluguer e de táxi.

A vontade de representar bem o país esteve sempre presente entre todos os que se apresentaram pelas seleções Elite e Jovem. Alguns não tiveram o melhor dos dias, mas todos deram o seu melhor e, se mais não conseguiram, para a próxima farão melhor.

Uma palavra de apreço para os que se despediram da Seleção Jovem, por atingirem este ano o limite de idade (23 anos). Duarte Cruz, Eurico Pereira, Rita Mestre e Beatriz Alves deixam o seu lugar para outros mais novos, com esta última atleta a fazer já a transição para a Seleção Elite. Esperamos que esta presença na Seleção de Jovens os motive a evoluírem ainda mais na modalidade.

Para melhorar as classificações dos nossos atletas será necessário um maior apoio na sua preparação para os eventos internacionais. Não basta ser o melhor a nível nacional. Por vezes, falta também mais concorrência entre muros. Ainda falta fazer algum trabalho de base, como estágios prévios, avaliação das capacidades físicas dos atletas em centros de Alto Rendimento, treino em altitude, mais acompanhamento por parte de treinadores ligados à Federação e reconhecimento prévio dos locais das provas. Só assim, Portugal melhorará a sua posição na tabela classificativa.
Porém, os apoios e patrocinadores são poucos e o orçamento limitado. Muito ainda se faz com as condições apresentadas.

Porque, se os apoios escasseiam, têm de ser os próprios atletas, os seus pais ou os clubes, a investir na sua própria evolução e participação em provas. Se os desportos olímpicos se queixam de falta de apoios, imaginem as modalidades que não estão no Olimpo, como é o caso do Skyrunning!

Fotos: Buff Epic Trail; Discover Abruzzo

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