O projeto “Girls Trail Camp” fundado pela Cláudia e pela Diana, duas apaixonantes da natureza, das serras de Portugal e por explorarem o que as rodeia, tem como objetivo integrar qualquer mulher que goste de praticar trail running, com mais ou menos experiência em corrida, e usufruírem de um fim de semana pela montanha. Para além disso, ao longo do ano realizam diversas atividades de responsabilidade social como, limpeza de trilhos em conjunto com a associação Caminhos da Lua, que são abertas a todo o público desde, mulheres, homens, crianças e animais.
A Trail running esteve à conversa com as mentoras do projeto: Cláudia e Diana.
Como surgiu o projeto “Girls Trail Camp” (GTC)?
A ideia do Girlstrailcamp surgiu num treino ao nascer do sol na serra de Sintra, com um termo de café às costas e duas grandes paixões: Natureza e Trilho! “Vamos!?” Foi tudo o que foi preciso para colocar o plano em andamento e organizar Trail Camp só para Miúdas.
Qual foi a motivação para a criação do GTC?
Por muitas motivações e nenhuma em particular. A perceção de que o Trail running é claramente um desporto frequentado por um público mais masculino, é tão evidente, como é, a vontade em que temos de o tornar mais inclusivo para as Mulheres.
Gostaríamos de realçar três motivações que pensamos ser aquelas que estruturaram mais as nossas atividades.
Notamos que embora a sociedade já tenha evoluído, tanto nos dias de hoje, ainda é verdade que a mulher lida com uma diversidade de papéis imensa e que a gestão de tempo na maior parte das vezes é uma tarefa difícil. Entre ser mulher, ser mãe, o emprego, as responsabilidades domésticas e outras mais, conseguir tempo para a prática de uma modalidade desportiva, é um desafio.
Outra das motivações é existir um espaço onde se possa partilhar conversas e dúvidas sobre temas mais associados à Natureza Feminina. Damos alguns exemplos: fases da vida da Mulher e o seu impacto no treino, ciclo menstrual e a rotina de exercício físico, qual o equipamento que se adapta às formas e conforto feminino, entre outros. Embora no nosso dia a dia lidemos com companheiros e amigos que respeitam estes temas, não o sentem como nós e por isso por mais que gostem de nós, é-lhes difícil apoiar.
A construção de novas dinâmicas individuais nasce muitas vezes pela partilha de ideias. É aqui que pensamos que esta comunidade pode entrar. Gostaríamos de deixar uma nota: Esta motivação não é discriminatória, pelo contrário. É inclusiva! Na medida em que gostaríamos de tornar mais natural esta partilha.
Outra motivação são os receios que ainda algumas mulheres podem sentir em ir para os trilhos sozinhas. Desde que abrimos a comunidade nas redes sociais recebemos muitas mensagens de mulheres que gostavam de treinar na serra, mas que não têm companhia, essencialmente de quem se está a iniciar no trailRunning.
Por último e não menos importante é o efeito desafio. Seja ele de que natureza for.
De que forma é que consideram que este projeto vai ajudar a integrar mais mulheres?
A pergunta anterior responde um pouco a esta questão, mas queremos criar uma oportunidade para se reunir um grupo de mulheres com valências e experiências únicas de partilha, de conhecimento e que viesse a facilitar novas aprendizagens e o desenvolvimento não só individual, mas também coletivo. É esta essência de comunidade, do efeito grupo e da transformação.
Que perspetivas futuras têm face ao Girls Trail Camp?
São várias as vontades e ideias que temos em mente. Ficámos contentes porque aquilo que tínhamos perspetivado inicialmente já começa a acontecer. Alargámos os treinos mensais em mais duas zonas do país, para além de Sintra. Também observamos que outros grupos de mulheres se organizaram para partilhar momentos de corrida, parecendo haver um efeito de contágio da nossa experiência.
No futuro, gostaríamos de que os nossos treinos mensais se alargassem por mais zonas do país, possibilitando a que cada vez mais Mulheres se associassem para a prática da modalidade e sentindo-se mais confiantes nesta prática.
Ainda, de manter os Trail Camps ao longo do ano, quer seja em Portugal continental, quer seja, um dia nas nossas belíssimas ilhas, bem como criar uma dinâmica conjunta com o nosso país vizinho, que também há pouco tempo criou uma comunidade de Trail running feminina.
À semelhança do evento Desafio Everesting em Sintra e em Valongo, que criámos no mês de março, e que contou com a participação de muitas participantes, completámos o desafio de repetir o mesmo segmento até se atingir os 8848, a altitude do Everest, gostaríamos que em cada ano se lançasse um desafio diferente a ser concretizado em modo cooperativo.
Em paralelo, gostaríamos de promover as serras de Portugal. O nosso país é lindíssimo, tem cantos e encantos maravilhosos. Se estiver ao nosso alcance promover cada recanto, assim o faremos!
Em que zona de Portugal e de que forma programam os treinos?
Os treinos mensais começaram em Sintra. Neste momento temos treinos mensais em Sintra, Arruda dos Vinhos e Valongo. Em cada uma destas últimas localidades existe uma pessoa responsável pela organização que articula connosco ao longo de cada mês para partilha das dinâmicas fotos, datas e horários. Os grupos de WhatsApp e reuniões on line ajudam muito nesta dinâmica organizativa. Aproveitamos para agradecer à Andrea Pereira e Vanessa Martinho a dedicação, alegria e colaboração que tem oferecido à comunidade Girls Trail Camp. Estas atividades têm ajudado muito à divulgação, partilha e dinamização da comunidade. Um grande obrigada a elas!
O nosso desejo é que existam treinos mensais em vários pontos do país, pelo menos uma vez por mês.
Já realizámos outras atividades, nomeadamente o Everesting no mês de março para comemorar o dia da Mulher, e as meninas de Valongo também se juntaram. Foi sem dúvida uma energia imensa sentir o movimento das miúdas para a organização e realização desta atividade.
Qualquer mulher se pode juntar a vocês? De que forma poderá fazê-lo?
Sim, qualquer mulher que corra com regularidade, com mais ou menos experiência em corrida, é bem-vinda. Nos nossos treinos mensais e Trail Camps, qualquer nível de prática da atividade é aceite. Apelamos sempre para que as mulheres que não tenham tanta experiência entrem em contacto connosco para que se consiga organizar a atividade por forma a dar mais atenção e sintam sucesso.
Nos nossos Trail Camps, temos sempre dois grupos de treino, com diferentes níveis de intensidade. Desta forma cada uma é livre e optar pelo desafio que quer.
Pensam expandir o vosso projeto a mais algum tipo de público?
Expandir os Trail Camps, atividades e treinos mensais para a género masculino não está nos nossos planos por ser essa a nossa singularidade. No entanto as questões de identidade não estão fora de participação. A sociedade está em constante construção e também podemos e devemos ter um papel nisso.
No nosso aniversário normalmente partilhamos o treino com todos aqueles que nos apoiam e acompanham e por isso são treinos abertos não só a mulheres, mas também a amigos.
A par disso ao longo do ano fazemos atividades, como a ação de limpeza de trilhos em comunhão com a associação Caminhos da Lua que é uma atividade aberta a todos: Mulheres, Homens, crianças e quatro patas.
Que reflexão fazem do vosso percurso enquanto criadoras de um projeto inovador e que resultados já têm vindo a notar?
O projeto é inovador em Portugal, em outros países já encontramos comunidades idênticas e com apoios de atletas femininos. Nós ainda estamos a construir o nosso caminho e por isso ver, dia após dia, o envolvimento das mulheres na nossa comunidade e um maior empowerment nos trilhos por parte do público feminino é a nossa maior satisfação.
Ao longo deste ano, vimos o nosso projeto ser abraçado pelo Bruno Saraiva e a sua loja, bsportbrand, que é representante da marca otso em Portugal. Foi sem dúvida um momento marcante e de festejo. Sentimos a nossa ideia valorizada, nesse momento em que a nossa ideia é reconhecida para encaixar no publico/mercado português.
Vimos em pouco tempo os nossos Trail Camps a terem muita adesão. Ao longo do ano foi abraçado por algumas entidades que contribuíram com miminhos para as mulheres que participaram.
As Mulheres que participaram em uns Trail Camps, repetem a presença! Pedem para guardar a vaga! Ficamos contentes e sentimos reconhecimento por isso. Todos e todas foram uma peça chave para hoje estarmos aqui. O que Todas temos é imenso para primeiro ano de existência. Obrigada!!
Enquanto criadoras e implementadoras desta comunidade, nós temos posturas e formas de pensar, em certos momentos, divergentes. E por isso nem sempre é fácil. Como em todos os desafios da vida. É importante saber reconhecer e assumir as coisas que não correm tão bem. Mas para equilibrar temos a nossa ligação em forma de amizade pautada por um inúmero respeito por aquilo que cada uma de nós é, sente, pensa e atua. Achamos que é uma das maiores reflexões: através do respeito por cada individualidade é possível criar momentos mágicos. Conseguimos transferir e transmitir isso para a nossa comunidade e atividades. Cada pessoa é única. É justamente essa singularidade que diferencia cada um de nós. E, ao mesmo tempo, conecta todos. É Incrível a diversidade humana, as ideias e os pensamentos de cada mente. A pluralidade do ser humano pode gerar riquezas incalculáveis. Talvez seja o nosso legado enquanto criadoras deste projeto.
Que próximos eventos, treinos ou programas vão realizar (locais e datas)?
Como próximos eventos temos o Trail Camp da Serra do Marão de 8 a 10 setembro e no início de dezembro vamos novamente à Serra da Lousã.
Os treinos mensais mantêm-se em Sintra, Valongo e Arruda dos Vinhos. Temos esperança que mais mulheres nos contactem para alargar os treinos em outras zonas do país e quem sabe alguma atleta abrace também este projeto.
No início do próximo ano lançaremos o calendário para o próximo ano, mas podemos adiantar que vamos voltar ao Gerês 🙂 …
Fotos: DR