”Quero continuar a perseguir sonhos…” – Miguel Arsénio em entrevista

Autor: Rita Vicente    Data: 26-03-2023
Publicado na categoria: Entrevista

Miguel Arsénio brilha entre a elite do trail e conquista segundo lugar na Transgrancanaria
Miguel Arsénio, 26 anos, atleta natural do concelho de Almeirim, tornou-se, no espaço de 5 anos, numa referência do trail running nacional. Em 2019 venceu a taça de Portugal de trail running nos Açores e sagrou-se vice-campeão nacional na mesma modalidade. Rapidamente começou a disputar provas e campeonatos nacionais em distâncias sprint, trail, trail ultra e trail ultra endurance.

2022 foi um ano repleto de conquistas para o corredor, com os títulos de campeão nacional de trail sprint e de trail ultra, 2.º lugar na Cortina Trail e 48 quilómetros do Lavaredo Ultra Trail by UTMB, além da 30.ª posição no trail longo do campeonato do mundo de trail running, em Chiang Mai, na Tailândia.

Miguel Arsénio arrecadou, agora 2m 2023, um brilhante segundo lugar na Transgrancanaria Classic, prova de 128 quilómetros disputada na ilha Gran Canaria. Com um desnível positivo acumulado de mais de 7.000 metros, a corrida marcou o início da série 2023 do Spartan Trail World Championships. A conquista de um lugar no almejado pódio, numa prova onde enfrentou forte competição, deveu-se a uma excelente gestão de prova por parte do atleta português da equipa SportHG/AMLSport. Foi então que os holofotes internacionais se acenderam para o “Mike Show”.

A Trail-Running.pt falou com o Miguel no rescaldo desta fantástica prova.

A tua prestação na Transgrancanaria foi um marco histórico para o trail running em Portugal, em que momento percebeste que ias conquistar um lugar no pódio?

Eu sempre acreditei que poderia terminar no top 5, mas nunca imaginei poder acabar no pódio. Sabia que, mantendo um ritmo muito rápido numa fase inicial, alguns dos melhores atletas presentes na competição poderiam quebrar ou desistir e isso poderia levar-me a um top 5 final. Quando a meio da corrida, sensivelmente aos 70 quilómetros, cheguei ao quarto posto, comecei a acreditar em mais. Assim que passei em segundo lugar aos 90 quilómetros, no final da subida ao Roque Nublo, comecei mesmo a aperceber-me de que estava em condições de terminar no pódio.

A partir daí acreditei sempre que, se não cometesse nenhum erro de nutrição, chegaria bem posicionado à meta em Maspalomas.

Que significado teve este lugar para ti? Qual foi a sensação?

Foi o culminar de um longo bloco de treinos. Trabalhei muito, muito duro, para estar bem na Transgrancaria. Levantar-me constantemente às 6 horas da manhã para treinar, ter um dia normal de trabalho e outro treino. Não é assim tão fácil, porque para um volume tão grande de treinos temos de estar 100% psicologicamente dentro do plano. Há dias que não vai apetecer, e é nesses dias que se ganham as corridas. Acreditar no objetivo final.

No fim da minha prova, nem tive palavras suficientes para descrever o que senti. Foi mais um confirmar a mim próprio aquilo que eu tanto falava com os meus mais próximos: que tenho uma capacidade aeróbia brutal e que posso ser muito bom neste tipo de distâncias.

Para alcançares este grandioso objetivo, a gestão da prova teve de ser eficaz, eficiente e consistente. Qual foi o segredo do planeamento e de que forma o adaptaste às adversidades enfrentadas no terreno?

Fiz um bloco de treinos diferente de tudo o que tinha feito até aqui. Aumentei os quilómetros semanais, aproveitando o embalo que trazia da preparação para o campeonato nacional de trail ultra.

Tentei treinar o máximo na Serra de Aire e em Montejunto, porque o terreno seria similar, com muita pedra. Durante a corrida apanhei aquilo que esperava, muita pedra e um clima húmido como aquele que temos na ilha da Madeira.

Após este grande resultado o que é que consideras que, a partir de agora, pode mudar na tua carreira desportiva?

Não quero criar expectativas. Criei demasiadas quando corri BTT-XCO.

Ganhei muita coisa, dei o salto para o ciclismo de estrada e fui um flop. Talvez por isso prefira não me iludir demais.

Sinto que é preciso confirmar este resultado com outro melhor ou igual e aí, sim, talvez acredite numa mudança mais a sério. Até lá, quero continuar a perseguir sonhos como tenho feito até aqui, enquanto mantenho o meu trabalho a full time que nada tem a ver com corrida.

Quais são os teus planos a nível competitivo?

Irei continuar a competir nas provas que gosto cada vez que tiver oportunidade. Em Portugal, por exemplo, o circuito do Carlos Sá, o Estrela Grande Trail, o Desafio Picos do Açor… e poderia referir mais. Pretendo também continuar a descobrir novos percursos e disputar os campeonatos nacionais sempre que possível.

Fotos: Jose Miguel Muñoz

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